segunda-feira, maio 29, 2006

Entrevista Game News / JB

O formato desta edição (que saiu com um intervalo maior que o previsto) será um pouco diferente: aproveitando a entrevista que dei no dia 10 de maio no programa Game News, comandado por Marcelo Tavares da seção de jogos do JB (onde também foi publicada no dia 24 de maio), resolvi publicar aqui uma espécie de transcrição comentada, de algumas das coisas que foram conversadas por lá. Aproveito para parabenizar a equipe pelo profissionalismo com que conduzem o programa, e também agradecer pela oportunidade e espaço cedidos para que eu pudesse apresentar não só meu trabalho como também alguns palpites na área de jogos.

O que a pessoa precisa fazer para ser um “criador de jogos” ?

Chico Queiroz - Se você joga um game, já é potencialmente um “criador de jogos”. Você pensa no que poderia ser melhorado, em regras novas. Hoje em dia você pode transformar as regras através das ferramentas que as produtoras disponibilizam. O que precisa ter mesmo é tempo para investir, estudar e um pouco de criatividade, o que geralmente todo o entusiasta de jogos já tem.


Ainda que esse argumento de que "quem joga, faz" pareça um pouco simplista e exagerado, acho que faz um pouco mais de sentido quando aplicado a video games que a algumas outras atividades. As fronteiras entre produtor e consumidor em jogos eletrônicos não são tão fechadas: Ferramentas para edição e modificação de jogos são disponibilizadas e contam até mesmo com suporte on-line. Jogos, diga-se de passagem, muitas vezes obrigam jogadores a explorar e analisar vários de seus aspectos para que possam progredir. Esta reflexão leva o jogador a entender, ainda que não esteja consciente disto, o funcionamento básico das engrenagens do jogo.

Atualmente qual é o enfoque do seu trabalho? Fale um pouco sobre os seus projetos.

Chico Queiroz - Eu busquei estudar um pouco mais do que chamam de non games. Jogos que não tem idéia de conflitos, ou objetivos pré-determinados como, por exemplo: The Sims, The Movies e Elektro Plankton. Nestes games você tem muitas opções em aberto e pode se expressar, ser criativo. O que eu mais busco nos meus trabalhos são jogos que permitam uma criatividade por parte do jogador. Se a Nintendo tem feito muito sucesso até agora, se deve ao fato dela investir em jogos feitos para esse público, que não estão tão interessados em jogos com conflito tão aparente.


Meu outro website, Nongames.com, é mais voltado para esta linha de pesquisa - mas ainda será publicado aqui algo a este respeito no futuro.

Você está participando do concurso Jogos Br. O que você achou dessa iniciativa?

Chico Queiroz - No último momento eu me aventurei e me inscrevi em um projeto. Vamos ver o que vai acontecer. Acho essa iniciativa louvável, mas acho curioso que tenha sido feita pelo Ministério da Cultura. Não que eu seja contra, mas é interessante perceber que o jogo é visto como cultura no Brasil, talvez mais do que em outros países, onde o jogo tem uma tradição maior. Poderia ter sido uma iniciativa não necessariamente ligada à cultura, mas acho interessante que tenham ligado. Não sei se é a única coisa que pode ser feito no Brasil para melhorar o desenvolvimento de jogos, seria bom criar condições para os desenvolvedores, baixando os impostos dos produtos que são muito caros. Todos esses custos extras atrapalham um pouco na hora de você comprar um vídeogame, desde montar uma empresa até registrar um domínio.


O custo extra a que me refiro existe, imagino, para toda e qualquer iniciativa empresarial. No entanto acredito, e aí posso estar sendo tendencioso, que a dificuldade para empresas de jogos e novas tecnologias é um pouco maior. Historicamente, empresas de video game foram em grande parte montadas por pequenas equipes de jovens. Muitas vezes, duplas de amigos ou irmãos. Embora essa fase já esteja um pouco pra trás (e no caso do Brasil, pode-se argumentar que nem tanto), ainda hoje companhias e projetos são iniciados com orçamento zero. Convenhamos: é caro e complicado abrir empresa no Brasil (fechar então, nem se fala). Usei como exemplo o registro de domínio porque sempre achei absurda a necessidade de CNPJ para tal.

A entrevista na íntegra está no site do JB. Curiosamente, antes da entrevista pensei que falaria bem mais sobre webgames, mas este assunto vai ter que ficar para uma próxima edição.