segunda-feira, junho 12, 2006

O caso dos webgames

Por Chico Queiroz

Assim que pensei que teria de falar - a pedido da equipe do Game News / Site JB - sobre webgames, não consegui lembrar de nada especialmente interessante para dizer. Só depois, aos poucos, fui organizando uma lista de É claro que havia. E se, por um lado, já se iam seis anos de trabalho ligados a jogos para a web, de outro ainda havia um certo preconceito meu - logo depois descartado - contra estes mesmos jogos. Afinal, ele não fazem parte, ao menos no imaginário coletivo dos gamers, do milionário mercado dos games, eldorado dos desenvolvedores, para o qual qualquer outra atividade relacionada a jogos deve ser apenas uma escada. Ao menos era assim que pensava, e imagino que muitos pensem. Entretanto, orçamentos e vendas a parte, webgames também podem ser um rico terreno para a criação e desenvolvimento de jogos. Eles reúnem diversas qualidades sem paralelo na indústria dos video games, pelo menos até agora (mas que pode mudar em breve, dependendo da conectividade dos consoles da nova geração). São algumas delas:

(1) Assuntos urgentes.
A velocidade com que se pode desenvolver jogos em Flash e Director (para citar apenas duas das mais populares plataformas encontradas) permite que se aborde assuntos que poderiam se tornar esquecidos ou menos pertinentes após o (longo) tempo necessário para o desenvolvimento de jogos para PC e consoles. O site Newsgaming.com, por exemplo, aborda material político que mais parecem adequados ao noticiário, sendo seu mais famoso trabalho o jogo September 12th - uma crítica a política externa belicosa dos Estados Unidos pós-9/11.

(2) Temas e designs experimentais.
Custos menores muitas vezes permitem que se corra riscos maiores. Se uma reclamação recorrente no meio dos games é a falta de originalidade da maior parte dos jogos lançados (ainda que, pessoalmente, ache que a situação vem melhorando há algum tempo) , webgames podem explorar forma e conteúdo, servindo com um laboratório onde os resultados podem ser rapidamente avaliados.

Ainda que não se trate tanto de um "design experimental", mais sendo um retorno a um gênero um pouco esquecido, o jogo Alien Hominid, agora comercializado para PS2 e Gamecube, começou como um webgame que contava com um público entusiasmado com suas qualidades.

(3) Modelos de negócios alternativos

Jogos on-line, quando comercializados, geralmente apresentam modelos de negócios distintos daqueles vendidos em lojas. Dentre os produtos nacionais, lembro que o Futsim, da Jynx Playware, era originalmente jogado diretamente no browser equipado com o plugin Flash. A assinatura mensal foi, então, a forma de cobrança praticada. Outras formas possíveis poderiam ser a publicidade, parcerias com portais, provedores, e por aí afora. Além disto, como frequentemente ocorre em portais de jogos casuais como o Shockwave.com, pode-se ainda colocar uma versão demo disponível como webgame e o jogo completo, à venda, em versão para download. Buggyracers e Sinapse, ambos da LocZ Games e nos quais trabalhei, são outros exemplos deste modelo.

(4) Penetração
O número de usuários de internet capazes de visualizar conteúdo em Flash é imenso. Director, javascript, Javascript, ActiveX e outras tecnologias também têm uma base de usuários consideravelmente grande. Isto permite que se atinja não somente o público que consome jogos tradicionais, como também os que pouco ouvem falar deles. E talvez seja para este público que as outras qualidades aqui listadas também façam mais sentido. Esta audiência, diz-se por aí, seria a verdadeira mina de ouro do entretenimento digital.



Talvez haja um fundo de verdade na impressão de que se voltam para webgames alguns daqueles que ainda não disponham de fundos, know-how ou tecnologia para entrar no mercado dos consoles. Isso não apaga, porém, o fato de que webgames também tenha momentos de brilhantismo e frequentemente ofereçam algo que jogos para console ainda estejam devendo - e que por isso mesmo seja preferida por alguns outros, interessados nas características que os destacam das demais formas de jogos eletrônicos.

Ah, sim. No final da história, fui informado de que o tema da entrevista seria outro. De qualquer maneira, achei que o assunto merecia algum destaque aqui.