quinta-feira, setembro 14, 2006

Falando sobre Molyneux - Parte 7/8

Dando continuidade a esse post, publicarei aqui a íntegra do artigo sobre o trabalho do designer Peter Molyneux e sua relação com o a alteridade. Este foi o tema de minha apresentação na FILE 2006 e também na 2a Conferência de Estudos de Videogames da Universidade da Florida.



Jogando o Outro:
Alteridade no Trabalho de Peter Molyneux


Por Chico Queiroz

The Movies

Desligado dos mundos fantásticos que ilustram os jogos anteriormente descritos, The Movies, publicado em 2005, é freqüentemente descrito como dois produtos distintos reunidos (Kosak, 2005; Davis, 2005). Trata-se não somente de uma simulação de gerenciamento (ou ‘tycoon game’), um gênero familiar a Molyneux, que já havia projetado o jogo Theme Park (Bullfrog Productions, 1994), mas também uma ferramenta para criação cinematográfica. Mais apropriado, aliás, seria considerá-lo uma ferramenta para produção de machinima – termo utilizado para designar produções cinemáticas feitas a partir de jogos e seus motores.

Quanto aos mecanismos do jogo, há similaridades (embora tênues) entre The Movies e Black & White, uma vez que jogos no estilo tycoon geralmente oferecem uma perspectiva ‘divina’ e permita manipulação direta de personagens (sejam ‘seguidores’ ou ‘funcionários’) por meio de uma mão soberana. Ainda assim, algumas características do jogo expressam algumas mudanças na maneira em que o tema da alteridade é abordado. Em primeiro lugar, em parte por causa do universo onde se passa (um estúdio de filmes à Hollywood), o trato maniqueista e o debate épico do ‘bem contra o mal’ é praticamente removido do gerenciamento, a parte o jogo voltada ao cumprimento de objetivos. Enquanto a competição contra outros estúdios pode trazer alguns prêmios ao jogador, seu desempenho é ditado quase que exclusivamente por suas ações, não sofrendo intervenções de um lado inimigo.

É ainda interessante ver como a porção mais livre do jogo, a ferramenta para produção de filmes, pode ser encaixada nesta discussão. Apesar do grau de liberdade oferecido, um de seus usos sugeridos, a julgar por cenas apresentadas pelo próprio Molyneux (Molyneux, 2005), seria a subversão de gêneros clássicos de Hollywood. Em uma apresentação no British Film Institute, Molyneux exibiu uma série de curtas metragens, feitos pelo pessoal da Lionhead, que brincavam com convenções cinematográficas, resultando em parodias homoeroticas de sitcoms e histórias de amor estreladas por mortos-vivos. Tudo isto pode ser visto não somente como uma crítica ao discurso formuláico da industria cinematográfica (ela mesma cheia de heróis e vilões arquetípicos – ver The Writers Journey, de Christopher Vogler, para exemplos), mas também como um convite à apropriação do discurso de seus meios por parte dos jogadores.

Nota: Leitor deste artigo, Patrick Dugan sugeriu que “a idéia de Hollywood como ponto final a jornada rumo ao moralmente ambígüo” seria adequada (Dugan, 2006). Talvez pudesse esse ser outro assunto a ser explorado posteriormente.





Semana que vem: Conclusão e Referências

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